Já pensou em ter um empreendimento rentável, mas sem pensar exclusivamente no lucro? Pois é, já existe e esse movimento, que vem crescendo no mundo: é o chamado empreendedorismo social.
Afinal, o que é empreendedorismo social?
Diferente do empreendedorismo clássico que visa somente o lucro e o interesse de seus proprietários e/ou acionistas, o empreendedorismo social busca uma vertente de transformação da sociedade, principalmente as mais vulneráveis.
Além dos impactos positivos para a população de baixa renda, esse modelo de negócio visa o desenvolvimento de outras frentes, como o cuidado e preservação do meio ambiente.
Empreendedorismo social x ONGs
Apesar de terem como pano de fundo o lado social, o modelo de empresa de empreendedorismo social não pode ser confundido com as ONGs (Organizações Não Governamentais).
Essas organizações e instituições não-governamentais prestam um serviço social e com frequência precisam de investimentos do poder público, doações e outras ações sociais para manter sua filantropia. Além disso, essas organizações não desenvolvem lucro.
Já o empreendedorismo social é autônomo e pode gerar lucro, porém os valores não vão para o seu líder ou grupo de sócios, por exemplo. Os recursos são integralmente utilizados para a manutenção dos negócios.
O foco é beneficiar um grupo de pessoas e não os ganhos individuais.
Empreendedorismo social na prática
Empreendedorismo social é diferente de uma ação social isolada.
Por exemplo: imagine uma ação de arrecadação de agasalhos para a população em situação de rua. Esta é uma ação social que agiu no combate ao frio dos mais necessitados – mas não provocou mudanças na base, na estrutura dessa comunidade.
Empreendedores sociais, do seu lado, abrirão um negócio de confecção de roupas de inverno, onde pessoas em situação de rua serão contratadas como funcionárias. No lucro da venda das peças, parte será reinvestido no negócio e a outra dividida entre os colaboradores.
Este é um modelo de negócio que, apesar de gerar lucros, teve como foco principal a mudança da realidade dos vulneráveis e reduziu os impactos da desigualdade social.
O crescimento do empreendedorismo social
Os empreendimentos sociais têm se tornado cada vez mais numerosos e gerado cada vez mais volume de negócios em todo o mundo.
Segundo levantamento da Ande Brasil (Aspen Network of Development Entrepreneurs), o empreendedorismo social tem movimentado cerca de US$60 bilhões no mundo e registrado um aumento aproximado de 7% ao ano.
De acordo com a Fundação Schwab, plataforma global de empreendimentos sociais, mais de 600 milhões de pessoas são impactadas por esse tipo de negócio – e o Brasil está entre os 10 países do mundo com mais projetos na área.
Para se ter uma ideia, até 2018 existiam mais de 800 empreendimentos sociais no Brasil, sendo 56% deles localizados na região sudeste, segundo dados do Sebrae.
O que é empreendedorismo social: duas linhas de pensamento
Mesmo em ascensão e com a missão de impactar a realidade de uma comunidade vulnerável, o empreendedorismo social não mantém uma linha unânime de pensamento e ações.
Ele se divide em duas correntes de pensamento:
A primeira é liderada pelo economista bengali Mohammad Yunus, ganhador do prêmio Nobel da Paz em 2006 e pioneiro no tema empreendedorismo social.
- Segundo ele, os empreendedores sociais não devem ter direito ao lucro; todo valor gerado deveria ser reinvestido na empresa, para a ampliação dos benefícios gerados pelo empreendimento social.
Já a segunda corrente, mais recente, foi criada pelos professores da Universidade de Harvard Stuart Hart e Michael Chu.
- De acordo com eles, a distribuição do lucro entre os investidores seria permitida, porque isso possibilitaria a atração de novos investidores e recursos para a criação de novos negócios que busquem resolver desafios existentes no mundo.
Importante lembrar que não há consenso sobre qual corrente seria mais correta para o empreendedorismo social.
É possível encontrar negócios sociais que se comportam de acordo com a primeira ou com a segunda linha. No entanto, todos eles têm em comum o foco no benefício de um grupo de pessoas, na transformação da comunidade e não nos ganhos individuais.
Empreendedorismo social e suas vantagens
A principal vantagem do empreendedorismo social é inserir grupos de baixa renda na cadeia produtiva e, a médio e longo prazo, levá-los a condições melhores de vida.
Esse movimento impacta positivamente toda a economia de um país, pois se uma pessoa tem condições financeiras acessíveis, ela irá consumir mais bens e serviços. A consequência disso será o aumento pela demanda por mais mão de obra e posteriormente a geração de mais emprego e assim por diante – fazendo então a “roda da economia girar”.
O empreendimento social também desponta talentos em áreas menos favorecidas: ao dar oportunidades para um maior número de pessoas, ideias que antes estavam ocultas da sociedade, podem ser trabalhadas de forma a serem ampliadas e desenvolvidas.
Políticas comuns
- Trabalho em rede: criar parcerias que ampliem o impacto do negócio;
- Combate ao trabalho escravo, forçado ou infantil;
- Cuidado com a cadeia produtiva: seleção e avaliação de fornecedores em todas as etapas da prestação de serviço ou produção de um bem.
- Preocupação e gerenciamento do impacto ambiental;
- Alinhamento do negócio com políticas públicas.
A partir dessas diretrizes, os negócios sociais geram alguns impactos positivos na sociedade, tais como:
- Inclusão de grupos de baixa renda ou em vulnerabilidade social na cadeia produtiva;
- Oferta de produtos e serviços de qualidade com preços acessíveis;
- Aumento do acesso das populações de baixa renda a oportunidades e atendimento de necessidades básicas, como saneamento, alimentação, energia, habitação, saúde, educação etc.;
- Oferta de produtos e serviços que promovam geração de renda entre as populações marginalizadas – por exemplo, a partir de equipamentos de baixo custo, venda de tecnologias e acesso a crédito.
Exemplos de empresas
É um grupo de artesãs espalhadas pelo Brasil para criar e desenvolver soluções sustentáveis de reaproveitamento de resíduos, seguindo o conceito da reutilização criativa.
Consiste em transformar resíduos e materiais indesejados em um produto de qualidade e valor ambiental.
A produção é inteiramente feita por artesãs de áreas com baixo poder aquisitivo, gerando renda e inclusão econômica.
Criada pelo executivo Peter Thum e o educador John Zapolski, a empresa transforma fuzis AK-47 recolhidos de conflitos na África e as transformam em joias e objetos de arte.
A maior parte das armas usadas são recolhidas pela ONU (Organização das Nações Unidas). Outra alternativa usada pela empresa está no recolhimento direto das armas ao final dos conflitos.
As armas, então, são derretidas nesses locais e o material é retirado e usado pela empresa. Com o dinheiro obtido com a venda das joias (a maior parte delas feitas nos EUA), a Fonderie 47 obtém mais dinheiro para derreter novas armas.
Estimativas apontam que cerca de 20 milhões de fuzis ainda estejam em uso no continente africano.
Gostou da ideia de empreender em prol de uma sociedade mais justa e desenvolvida? Bacana, não é? E já que estamos nesse clima, confira essa seleção de filmes e séries inspiradores sobre empreendedorismo que você precisa assistir!