Definir o preço a ser cobrado por um serviço de contabilidade nem sempre é uma tarefa fácil. Enquanto alguns profissionais ficam em dúvida se estão praticando valores justos, para outros, a dificuldade já começa em encontrar referências para comparar preços e definir os seus com mais segurança. Mas e se existisse uma tabela de preços para contadores que se adequasse à realidade de cada um?
Sem dúvida, esse recurso pode facilitar e muito a rotina de qualquer contador autônomo ou escritório de contabilidade. Mas, para chegar a um modelo ideal e personalizado, é preciso considerar alguns critérios.
Tabela de preços para contadores: como montar a sua
Para entender quais são esses critérios e saber o passo a passo para criar uma tabela de preços para contabilidade sem erros, consultamos a especialista em finanças empresariais Rosane Machado, sócia-fundadora da Roma Contabilidade e das consultorias Roma Business Consulting e Green+, no Rio Grande do Sul.
Confira, a seguir, todos os detalhes sobre o que você precisa levar em conta para chegar à melhor precificação:
1. Considere a complexidade do serviço
O primeiro passo para definir o preço do honorário contábil para qualquer atividade é avaliar a complexidade do serviço.
Uma forma de fazer isso é estimar o tempo necessário para executá-lo. “Para chegar a essa resposta, é importante que você saiba quanto custa a sua hora de trabalho ou a do funcionário que irá assumir o atendimento do cliente que vai entrar na sua carteira”, recomenda Rosane.
A questão é que nem sempre as contabilidades conseguem avaliar, de imediato, os custos que cada perfil de cliente vai trazer, o que pode acabar atrapalhando a precificação e até trazer prejuízos no futuro.
Para evitar que isso aconteça, é preciso considerar mais alguns pontos.
2. Examine a região onde o cliente está
Se você tem uma contabilidade digital, por exemplo, a região em que o seu cliente está vai ter um peso menor neste cálculo, já que o atendimento poderá ser feito online.
Por outro lado, se você trabalha com atendimento presencial, esse é um fator que vai influenciar os seus custos e, por isso, também precisa ser considerado na hora de definir seus preços. “Em alguns casos, a reunião de entrega das informações para o cliente é feita na empresa dele”, comenta Rosane. “É preciso considerar o valor e tempo gastos nesse deslocamento e a frequência com que esses encontros vão ocorrer”, completa a especialista.
3. Avalie o endividamento
Além da região, entender o nível de endividamento do cliente e saber se ele possui dívidas tributárias e bancárias é muito importante.
Isso ajuda a entender o volume de movimentações que a empresa vai fazer, o que também influencia a complexidade do serviço de contabilidade. “De modo geral, se uma empresa tem dívidas, ela tende a ter mais contas em diferentes bancos. Com isso, são mais extratos para conciliar e mais tempo gasto de mão de obra”, avalia Rosane. “Se ela também tem parcelamento fiscal, são mais informações contábeis para analisar todo mês”, explica.
Em resumo, as empresas que têm dívidas e parcelamentos costumam dar mais trabalho para o contador.
A especialista ainda complementa que, normalmente, os clientes mais endividados não são tão organizados financeiramente e também tendem a enviar as informações para o contador de forma bagunçada. Por isso, o endividamento é um fator de complexidade que deve influenciar, sim, a tabela de preços dos contadores.
4. Saiba qual é a atividade exercida pela empresa
A atividade da empresa também interfere na precificação dos serviços contábeis. Por isso, considere se o seu cliente em potencial é uma companhia prestadora de serviços, um comércio ou uma indústria antes de definir o seu preço.
Lembre-se que uma empresa de comércio ou indústria, por exemplo, trabalha com estoque que precisa ser conferido todos os meses, além das informações de praxe da contabilidade.
5. Considere o volume de faturamento
Dentro das categorias comércio, indústria e serviço, ainda existem empresas com níveis de complexidade muito diferentes, o que também é preciso considerar.
O volume de faturamento é um fator importante a ser analisado, mas nem sempre é determinante. “Um dos grandes erros cometidos nas contabilidades é calcular o honorário apenas sobre o faturamento da empresa”, comenta Rosane. “Alguns profissionais definem que 0,5% do faturamento total do cliente, por exemplo, é o valor a ser cobrado. Mas não existe fórmula mágica”, afirma.
Vale lembrar que, mesmo com um faturamento parecido, empresas com atividades distintas podem trazer mais ou menos trabalho para as contabilidades. “Eu não posso considerar o nível de complexidade de uma agência de marketing que fatura 500 mil reais mensais igual ao de uma empresa de construção que também fatura 500 mil, por exemplo”, explica Rosane. “Ambas se encaixam em serviços e faturam a mesma coisa, mas as atividades tão diferentes fazem com que a complexidade delas também mude bastante”.
6. Examine o regime de tributação
Lucro Real, Lucro Presumido ou Simples: o regime de tributação em que a empresa do seu potencial cliente se encaixa é um dos grandes influenciadores de complexidade dos serviços de contabilidade e, por isso, também deve interferir na tabela de preços.
O Lucro Real, por exemplo, é um regime mais complexo e, por isso, não é atendido por boa parte do mercado de contabilidade. Em 2018, um estudo realizado pelo consultor especializado em contabilidade Roberto Dias Duarte em parceria com o Conselho Regional de Contabilidade de Santa Catarina e o Instituto Fenacon revelou que, no Brasil, apenas metade dos prestadores de serviços contábeis atende empresas enquadradas no Lucro Real, enquanto 95% atendem empresas do Simples.
Nesse cenário, o contador ou escritório contábil que aceita trabalhar com esse regime de tributação pode praticar preços bem acima daqueles que são cobrados para empresas que se enquadram no Simples ou Lucro Presumido. “Também é importante considerar que as dúvidas trazidas por um empresário do Lucro Real, que fatura mais de um milhão por mês, são bem mais complexas e difíceis de serem resolvidas do que as dúvidas de quem está no Simples e que vende R$ 50 mil por mês, por exemplo”, pondera Rosane.
7. Avalie o número de funcionários
Além da escrituração contábil e fiscal, algumas empresas escolhem um escritório de contabilidade para fazer a folha de pagamento da companhia, uma atividade do Departamento Pessoal.
Em casos assim, o número de funcionários é mais um indicador de complexidade que deve ser considerado na tabela de preços do contador. A lógica é simples: quanto mais funcionários uma empresa tem, mais trabalho o Departamento Pessoal (ou escritório de contabilidade que atua dessa forma) terá.
Rosane Machado explica que, normalmente, as contabilidades estipulam um valor para fazer a escrituração contábil e fiscal das empresas e acrescentam o preço da folha de pagamento de acordo com o número de funcionários.
É possível cobrar um valor por funcionário ou faixas de preço. “Alguns escritórios cobram um preço X por até 15 funcionários, por exemplo, e acima disso, outro valor por funcionário adicional. É um modelo interessante e bastante usual”, comenta Rosane.
Os escritórios que também oferecem serviços de folha de pagamento têm a oportunidade de aplicar preços maiores, considerando, inclusive, a comodidade oferecida ao público, que terá vários serviços em um só lugar.
Cuidados importantes
Além dos critérios que listamos, que ajudam a definir a complexidade dos serviços de contabilidade e os preços que serão praticados a partir delas, é importante prestar atenção em alguns pontos no dia a dia para manter a saúde financeira da sua empresa em dia — e uma remuneração justa sobre o seu trabalho como contador:
1. Não deixe de cobrar por qualquer serviço prestado
Ao montar uma tabela de preços para a sua contabilidade, é preciso ter em mente que cada serviço realizado deve ser levado em conta. “Infelizmente, existem profissionais que não cobram pelas atividades de contabilidade societária, por exemplo, o que prejudica o seu próprio faturamento e desvaloriza o mercado como um todo”, explica Rosane Machado.
2. Não se baseie apenas nas tabelas dos Conselhos
Na seção de perguntas frequentes em seu site, o Conselho Federal de Contabilidade afirma o seguinte:
“Não compete aos Conselhos de Contabilidade legislar sobre a cobrança de honorários. O Sindicato dos Contabilistas de cada Estado divulga anualmente uma tabela que propõe um valor mínimo de honorários a ser cobrado sobre os serviços prestados. Sugerimos entrar em contato com o SESCON ou Sindicato do seu Estado e consultar a tabela de honorários vigente.”
Os sindicatos e Conselhos Regionais de Contabilidade divulgam tabelas de referência que, em tese, deveriam nortear a precificação de serviços dos profissionais da área.
No entanto, o problema é que essas tabelas de preços para contabilidade “oficiais” normalmente trazem valores muito acima dos que são praticados pelo mercado, o que pode deixar o profissional ou escritório em desvantagem em relação à concorrência.
Por isso, a melhor opção para criar a tabela de preços da sua contabilidade pode ser simplesmente conversar com outros profissionais da sua região para entender o quanto eles cobram e, claro, quais critérios eles costumam considerar para fazer a precificação — principalmente agora que você já sabe em quais pontos precisa ficar de olho para definir o preço certo, não é mesmo?
“No início, eu usei a tabela do Conselho Regional para ter uma lista com todas as atividades que eu poderia desempenhar”, conta Rosane. “Depois, deletei aquelas com as quais eu não queria trabalhar e montei a minha própria tabela”, comentou Rosane.
O próprio Google e as redes sociais também podem trazer referências interessantes para quem quer montar sua tabela de preços com mais segurança. Nas redes, Rosane compartilha conteúdos exclusivos sobre precificação principalmente no Instagram, nos perfis @rosanefinancas, @roma_bc e @greenmais_oficial. Assim como ela, outros profissionais experientes fazem o mesmo. Vale a pena conferir.
3. Adote um contrato de prestação de serviços completo
Para Rosane, boa parte dos problemas que os contadores têm para precificar seus serviços seriam resolvidos com um modelo de contrato completo, com cláusulas contratuais claras.
Então, se você fechar um contrato de R$ 1.000 mensais com determinado cliente, por exemplo, precisa detalhar exatamente o que está incluso neste contrato: emissão de até X notas por mês, para uma empresa no regime de tributação X (assim, você pode rever o valor cobrado em caso de mudança de regime sem dor de cabeça), com X parcelamentos fiscais mensais etc. Tudo deve ser especificado, incluindo os valores que poderão ser cobrados à parte caso a quantidade de serviços acordada seja ultrapassada.
A revisão dos honorários do contador também precisa estar prevista no contrato e documentada de forma clara. “No meu escritório, por exemplo, a gente revisa e atualiza os preços cobrados todo mês de janeiro”, conta Rosane.
Com o passar do tempo, as mensalidades ficam defasadas e o ideal é praticar reajustes que cubram pelo menos a inflação. O indicador mais utilizado para basear os reajustes é o IGP-M (Indicador Geral de Preços do Mercado). Para se ter ideia, de janeiro a dezembro de 2022, o índice acumulou alta de 5,45%.
4. Lembre-se de informar sobre o 13° pagamento
Quando se trata de precificação em contabilidade, existe um tema “polêmico”: o 13° pagamento do contador.
Algumas empresas se mostram resistentes a isso porque acreditam que essa mensalidade adicional é uma espécie de 13° salário, mas isso não é verdade.
Além dos serviços prestados todos os meses, no fim do ano é chegado o momento do balanço anual e, de janeiro a dezembro, são entregues 13 declarações para o Fisco, 13 folhas de pagamento e a declaração anual, o que justifica essa cobrança extra.
Para não sair no prejuízo, existem duas opções:
a. Embutir o valor do 13° pagamento no contrato mensal
Vamos supor que você cobra R$ 1.000 por mês de determinado cliente. Em 13 meses, serão R$ 13.000. Caso o cliente prefira não pagar duas vezes pelos serviços do fim do ano, você pode dividir R$ 13.000 por 12 e cobrar R$ 1.083,33 por mês de janeiro a dezembro, por exemplo.
b. Cobrar uma mensalidade extra no fim do ano
O problema de embutir o valor do 13° pagamento nas demais mensalidades é que elas ficam mais caras, o que muitas vezes deixa o cliente com a sensação de que você está cobrando mais, principalmente quando comparam orçamentos de outros profissionais).
Por isso, boa parte dos escritórios prefere estabelecer um valor mensal sem considerar esses serviços e cobrar por eles apenas no fim do ano. O melhor, no fim das contas, é explicar para os clientes por que essa cobrança ocorre e dar opção de escolha com antecedência para aumentar suas chances de fechar negócio.
Mais uma vez, lembre-se de deixar tudo isso detalhado no contrato de prestação de serviços.
Deu para perceber que, apesar de facilitar a rotina, uma tabela de preços para contadores com preços adequados não é tão simples de fazer, não é mesmo? No fim das contas, são muitas questões para serem avaliadas, mas agora você já sabe quais são os fatores mais importantes para definir seus honorários contábeis.
Esperamos que este conteúdo tenha ajudado você a esclarecer suas dúvidas sobre precificação de serviços. Até a próxima e bons negócios!